14/08/2008
08/08/2008
Ecco, babbo
Quando foi o dia que eu devia me pronunciar a meu pai, que me questionava, sobre profissão, respondi:
"Quero ser vendedor de sementes"
Meu pai disse-me que vendedor de semente não era profissão: profissão era ser marceneiro, mecânico, padeiro.
Como eu insistia, meu pai disse:
" Vendedor de sementes é uma profissão de vagabundo!"
Gostaria de dizer que não conseguia entender a idéia de ficar o dia todo fechado em um laboratório ou em uma oficina. Eu temia as grossas mãos de operário do meu pai. Davam-me tapas na nuca. Ele já estava ficando nervoso, reprovava a minha mãe por ter me dado uma má educação.
Ele era um homem que tinha mãos grossas de operário, lia o seu jornal; sua camisa era suja de graxa; passava os seus dias fechado em uma oficina; seus cabelos eram castanhos, cheios de pólvora. No domingo, sumia como se fosse trabalhar, na sua roupa cinza. Eu queria-lhe bem, não o temia somente: gostava da sua força, da sua cara de mau.
Eu era um menino de doze anos e queria dizer-lhe:
"Sabe, papai, há sol enquanto você está na oficina. A água do rio é verde;"i lupini", de ouro; as sementes são convidativas. Eu não posso querer nada menos que isso, que a minha liberdade."
Foi meu pai, em vez, que me disse:
"Deve aprender uma profissão. Trabalhar seriamente distrai. Aprenda mais do que uma profissão, outra coisa, algo forte. Um vendedor de sementes parecerá, até a você quando estiver mais velho, um vagabundo, um homem que não teve coragem do seu próprio nome."
Bom, pai, sou grande e os poetas ainda não tem um nome.
Vasco Pratolini traduzido, porcamente, por mim.
L´ultima frase è bellissima in italiano:
"Ecco, babbo, io sono grande, e non ancora i poeti hanno un nome."
"Quero ser vendedor de sementes"
Meu pai disse-me que vendedor de semente não era profissão: profissão era ser marceneiro, mecânico, padeiro.
Como eu insistia, meu pai disse:
" Vendedor de sementes é uma profissão de vagabundo!"
Gostaria de dizer que não conseguia entender a idéia de ficar o dia todo fechado em um laboratório ou em uma oficina. Eu temia as grossas mãos de operário do meu pai. Davam-me tapas na nuca. Ele já estava ficando nervoso, reprovava a minha mãe por ter me dado uma má educação.
Ele era um homem que tinha mãos grossas de operário, lia o seu jornal; sua camisa era suja de graxa; passava os seus dias fechado em uma oficina; seus cabelos eram castanhos, cheios de pólvora. No domingo, sumia como se fosse trabalhar, na sua roupa cinza. Eu queria-lhe bem, não o temia somente: gostava da sua força, da sua cara de mau.
Eu era um menino de doze anos e queria dizer-lhe:
"Sabe, papai, há sol enquanto você está na oficina. A água do rio é verde;"i lupini", de ouro; as sementes são convidativas. Eu não posso querer nada menos que isso, que a minha liberdade."
Foi meu pai, em vez, que me disse:
"Deve aprender uma profissão. Trabalhar seriamente distrai. Aprenda mais do que uma profissão, outra coisa, algo forte. Um vendedor de sementes parecerá, até a você quando estiver mais velho, um vagabundo, um homem que não teve coragem do seu próprio nome."
Bom, pai, sou grande e os poetas ainda não tem um nome.
Vasco Pratolini traduzido, porcamente, por mim.
L´ultima frase è bellissima in italiano:
"Ecco, babbo, io sono grande, e non ancora i poeti hanno un nome."
05/08/2008
situação surreal
Texto do meu amigo jornalista Tiago Augusto dos Santos :
Uma jornalista do Ceará me ligou hoje:
- Alô, eu queria uma entrevista sobre o negócio de vocês?
- Como?
- Quero entrevistar uma fonte da sua empresa.
- Mas a senhora quer falar com o presidente, com quem?
- Não, não precisa ser com o presidente, pode ser qualquer um.
- Qualquer um? Mas sobre o quê? Pra quando?
- Olha, é urgente. Já são 16h30 e eu preciso fechar isso hoje, até 17 horas.
- Ok, e sua entrevista é sobre qual tema?
- É, sobre... deixa eu ver aqui... responsabilidade social.
Fiquei de procurar alguém, mas, minutos depois, a jornalista ligou novamente:
- Oi, olha, er, desculpe. Então, eu não sabia direito o nome, não é responsabilidade social. Eu quero fazer uma entrevista sobre investimento cultural.
- Ok. Então você pode me mandar sua pauta? Para aprofundar melhor o assunto, entender o foco da matéria.
- Ah? Pauta? Que pauta?
- É, tipo, umas perguntas. Me manda as perguntas que você vai fazer, pode ser?
- Oh, meu filho, mais que perguntas? Eu já fiz a pergunta.
- Já fez?
- Sim, eu quero saber de investimento cultural.
- Mas, minha senhora, o quê exatamente sobre investimento cultural? O assunto é muito amplo, muito abrangente!
- Mas vocês não trabalham aí com isso? Vocês não são especialistas?
- Sim, mas eu preciso saber o enfoque da sua matéria. O que a senhora vai abordar.
- Olhe, eu já falei, quero saber de investimento cultural.
- Não tem um objetivo mais específico?
- Mas como eu vou saber, se não fiz a entrevista ainda? Só sei que quero falar de investimento cultural . Você vai me ajudar ou não?
- É que desse jeito, no vazio, fica difícil. Temos muitas áreas de atuação nessa frente. A senhora precisa pesquisar mais, explicar um pouco melhor.
- Olha, eu não sei de pauta, não tenho mais perguntas, e eu tô cheia de coisas aqui e preciso fechar isso até daqui a pouco.
- ...
- Você tem uma entrevista pra mim ou não?
- A senhora é jornalista?
- Sim.
Pausa. Respira. Conta até três. Finge que acredita.
- Ok. Eu vou tentar achar alguém e te dou um retorno.
- Alô, eu queria uma entrevista sobre o negócio de vocês?
- Como?
- Quero entrevistar uma fonte da sua empresa.
- Mas a senhora quer falar com o presidente, com quem?
- Não, não precisa ser com o presidente, pode ser qualquer um.
- Qualquer um? Mas sobre o quê? Pra quando?
- Olha, é urgente. Já são 16h30 e eu preciso fechar isso hoje, até 17 horas.
- Ok, e sua entrevista é sobre qual tema?
- É, sobre... deixa eu ver aqui... responsabilidade social.
Fiquei de procurar alguém, mas, minutos depois, a jornalista ligou novamente:
- Oi, olha, er, desculpe. Então, eu não sabia direito o nome, não é responsabilidade social. Eu quero fazer uma entrevista sobre investimento cultural.
- Ok. Então você pode me mandar sua pauta? Para aprofundar melhor o assunto, entender o foco da matéria.
- Ah? Pauta? Que pauta?
- É, tipo, umas perguntas. Me manda as perguntas que você vai fazer, pode ser?
- Oh, meu filho, mais que perguntas? Eu já fiz a pergunta.
- Já fez?
- Sim, eu quero saber de investimento cultural.
- Mas, minha senhora, o quê exatamente sobre investimento cultural? O assunto é muito amplo, muito abrangente!
- Mas vocês não trabalham aí com isso? Vocês não são especialistas?
- Sim, mas eu preciso saber o enfoque da sua matéria. O que a senhora vai abordar.
- Olhe, eu já falei, quero saber de investimento cultural.
- Não tem um objetivo mais específico?
- Mas como eu vou saber, se não fiz a entrevista ainda? Só sei que quero falar de investimento cultural . Você vai me ajudar ou não?
- É que desse jeito, no vazio, fica difícil. Temos muitas áreas de atuação nessa frente. A senhora precisa pesquisar mais, explicar um pouco melhor.
- Olha, eu não sei de pauta, não tenho mais perguntas, e eu tô cheia de coisas aqui e preciso fechar isso até daqui a pouco.
- ...
- Você tem uma entrevista pra mim ou não?
- A senhora é jornalista?
- Sim.
Pausa. Respira. Conta até três. Finge que acredita.
- Ok. Eu vou tentar achar alguém e te dou um retorno.
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