Dorian Gray, personagem principal de “O retrato de Dorian Gray”, obviamente, perde lugar para o grande personagem de Oscar Wilde, Henry Wotton, nosso querido Harry.
O jovem influenciável só chegar a ser o que é em virtude de Harry; ou melhor, só chega a ser o que é por vontade própria, pois deixa-se influenciar, se pensarmos à maneira deste. Maneira essa desprezada muitas vezes pela sociedade, como podemos perceber pelos comentários feitos pelas diversas personagens presentes em variados encontros boêmios freqüentados por Henry e Gray.
Henry Wotton é incrivelmente bem construído, além de ser realmente provocador. Podemos lembrar, é claro, da perseguição a Oscar Wilde após a escrita desse livro “depravado”. São tantas as teorias de Wotton, que seria impossível listá-las neste pequeno post – impossível e desagradável, pois o prazer dos ainda não-leitores seria retirado. Mas, como Dorian chega a dizer no final do livro, é possível pensar que elas são motejos ou crueldades, mas, na minha análise, o lorde Harry nada mais é que um pensador desprendido de todas- ou quase todas- as convenções da sociedade. Tenta ser um homem que vive pelas próprias regras, mesmo que elas não agradem a todos, o que geralmente ocorre, pois, para a maioria, é difícil aceitar que as pessoas ajam de forma diversa daquela já programada e aceita. Isso é inadimissível, para elas, pois, senão, viveríamos num mundo de caos.
Apesar da sua irreverência, não sei se seria possível conviver com pessoa de tamanha personalidade e teorias, mas, para um personagem não presente em minha vida, elogio a sua existência.
"As mulheres nos amam pelos nossos defeitos. Se não os temos, transmitem-nos os seus, mesmo à nossa inteligência...(...)"
"Um homem pode ser feliz com qualquer mulher enquanto não a ama."
"Creio e confesso-o que mais vale ser belo que bom. Mas, por outro lado, ninguém estará mais disposto do que eu a reconhecer que mais vale ser bom do que feio."
"Para ser popular, é preciso ser-se medíocre." - alguém se recorda do medalhão de Machado de Assis?
"Os livros que a sociedade qualifica imorais são os que lhe exibem a sua própria vergonha."
(todas frases de Henry Wotton)