18/10/2010
Histórias da vida como ela é
25/05/2010
Dentro da noite veloz
Serei um merda
quero ser um merda
Quero de fato viver.
Mas onde está essa imunda
vida mesmo imunda?
No hospício?
num santo
ofício?
no orifício
da bunda?
Devo mudar o mundo,
a República? (...)
trecho de Dentro da noite Veloz, de Ferreira Gullar
21/03/2010
O Cão Sem Plumas
é muito mais espessa
se um homem a come
do que se um homem a vê.
Como é ainda mais espessa
se a fome a come.
Como é ainda mais espessa
se não a pode comer
a fome que a vê
(JCMN em O Cão Sem Plumas)
19/10/2009
minha profissão
Entre a possibilidade de acertar muito, existente
Na matemática, e a possibilidade de errar muito,
Que existe na escrita (errar de errência, de caminhar
Mais ou menos sem meta) optei instintivamente
Pela segunda. Escrevo porque perdi o mapa.
anedotinhas do pasquim
– Acorda, meu filho. Acorda, que está na hora de você ir para o colégio.
Lá de dentro, estremunhado, o filho respondeu:
– Pai, eu hoje não vou ao colégio. E não vou por três razões: primeiro, porque eu estou morto de sono; segundo, porque eu detesto aquele colégio; terceiro, porque eu não aguento mais aqueles meninos.
E o pai respondeu lá fora:
– Você tem que ir. E tem que ir, por três razões: primeiro, porque você tem um dever a cumprir; segundo, porque você já tem 45 anos; terceiro, porque você é o diretor do colégio.
(Anedotinhas do Pasquim. Rio de Janeiro. Codecri, 1981)
09/10/2009
mais um post...
E até o santo
Ele vendeu com muita fé
Comprou fiado
Prá fazer sua mortalha
Tomou um gole de cachaça
E deu no pé...
Mariazinha
Ainda viu João no mato
Matando um gato
Prá vestir seu tamborim
E aquela tarde
Já bem tarde, comentava
Lá vai um homem
Se acabar até o fim...
João bebeu
Toda cachaça da cidade
Bateu com força
Em todo bumbo que ele via
Gastou seu bolso
Mas sambou desesperado
Comeu confete
Serpentina
E a fantasia...
Levou um tombo
Bem no meio da avenida
Desconfiado
Que outro gole não bebia
Dormiu no tombo
E foi pisado pela escola
Morreu de samba
De cachaça e de folia...
Tanto ele investiu
Na brincadeira
Prá tudo, tudo
Se acabar na terça-feira...
Vendeu seu terno
E até o santo
Comprou fiado
Tomou um gole
João no mato
Matando um gato
Naquela tarde
Lá vai o homem...
João bebeu
Toda cachaça da cidade
Bateu com força
Em todo bumbo que ele via
Gastou seu bolso
Mas sambou desesperado
Comeu confete
Serpentina
E a fantasia...
Levou um tombo
Bem no meio da avenida
Desconfiado
Que outro gole não bebia
Dormiu no tombo
E foi pisado pela escola
Morreu de samba
De cachaça e de folia...
Tanto ele investiu
Na brincadeira
Prá tudo, tudo
Se acabar na terça-feira...
Prá tudo, tudo
Se acabar na terça-feira...
02/10/2009
EMBRIAGUEM-SE
EMBRIAGUEM-SE
É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
Baudelaire